Em meados do Século XIX, donos de engenhos dominavam a região nordeste do Brasil. Conhecida como a era do açúcar, esses donos de engenhos produziam açúcar para o Brasil inteiro de seus engenhos que tinham como mão de obra principal os escravos negros, que sofriam com os maus tratos, com o preconceito e a violência de seus senhores e capachos.
No litoral norte de Alagoas, o dono do engenho Ponte, engenho localizado em Porto de Pedras, aterrorizava seus escravos com a sua maldade, pois quem não conseguisse aguentar as horas dobradas de trabalho acabava sendo morto, alguns eram enterrados vivos. Esse dono de engenho era tão mal que há relatos que ele matou até a sua própria filha por ela ter se apaixonado por um mulato.
Esse dono de engenho acabou construindo uma casa na beira da praia de São Miguel dos Milagres e há relatos que foram seus escravos que a construíram trazendo tijolos na cabeça do Engenho Ponte até a Praia de São Miguel dos Milagres, na época, ainda pertencendo ao município de Porto de Pedras.
Na casa de Praia, o senhor do Ponte não deixou de fazer maldades. Continuou enterrando muitos escravos vivos. Mas algo estranho começou a acontecer. No local onde era os escravos eram enterrados, bananeiras começavam a crescer. Há uma estória que conta que o Senhor do Ponte colocou na mesa bananas para alguns escravos comerem. Depois dos escravos terem comido, avisou que se tratava de uma banana que tinha nascido na cova de um dos escravos que ele tinha enterrado.
O Senhor do Ponte continuou fazendo maldades em sua casa de Praia até o dia que faleceu.
No dia de seu enterro, pessoas viram que não havia ninguém no caixão, apenas pedras. Onde então teria ido parar os restos mortais do tão perverso dono de engenho?
Tempos depois da tão misteriosa morte do Senhor do Ponte, coisas começaram a acontecer. Quem vivia no engenho Ponte, nas regiões de Porto de Pedras,Tatuamunha, Lages, São Miguel dos Milagres e vilarejos vizinhos ouvia-se um berro horroroso de bode que vinha do Ponte até a sua casa na beira da praia. Desde então as pessoas começaram a se assombrar com o malvado senhor de engenho que agora teria se tornado em um bode horripilante, agora conhecido como “O Bode do Ponte”.
Há muitos relatos de pessoas que ouviram ou viram, se assombrando com o Bode do Ponte. Berros e gritos horripilantes que quem ouvia desmaiava de tanto medo. O Bode do Ponte aterrorizou vilarejos por muitas décadas e um certo dia deixou de assombrar.
Mas o Bode do Ponte não deixaria ainda ninguém em paz.
Depois que o ‘Bode do Ponte’ parou de berrar e aterrorizar os vilarejos da região, algumas pessoas começaram a sonhar com ele. O Bode do Ponte vinha em pesadelo e sempre com um objetivo: mostrar para a pessoa que estava sonhando o lugar em sua casa onde estariam enterradas as botijas de ouro, prática muito comum entre pessoas ricas daquela época, principalmente donos de engenhos, que enterravam ouros e fortunas na Casa Grande.
Muitas pessoas sonharam com o Bode, algumas tiveram coragem e foram buscar a fortuna. Cavaram, cavaram, mas nada acharam. Outras nem quiseram papo e deixaram pra lá, pois ‘ouro do Bode do Ponte é coisa do diabo’.
A casa do Bode do Ponte já foi delegacia na década de 20. Outras famílias também viveram por lá. Há relatos que uma família inteira que viveu na casa do ‘Bode do Ponte’ acabou ficando louca. No fim da década de oitenta dois irmãos moraram na casa, que já estava abandonada e em condições precárias. Habitantes de São Miguel dos Milagres juram que esses dois irmãos viravam lobisomem em noites de lua cheia.
Sem cuidado e totalmente abandonada depois que os dois irmãos ‘lobisomens’ morreram, a Casa do ‘Bode do Ponte’ começou a virar ruínas. Suas telhas e tijolos foram roubados para servir de material para construção de novas casas. Suas portas e janelas, de madeira boa, também foram saqueadas.. Hoje, quase no chão, as ruínas tentam sobreviver à medida que a modernidade chega lentamente em São Miguel dos Milagres. Os mais velhos ainda preservam a lenda, que por sua vez conta aos mais jovens, e assim, tentam preservar a história que ameaça desaparecer junto com os restos de uma casa que guarda um grande mistério.